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2.3.14

Bate-papo com Sereias (3) | Bruna Gomes



Bate-papo nº 3
Bruna Gomes
28/02/2014

RedLalita: Estou feliz em entrevistar mais uma integrante do Al-Málgama. Obrigada por aceitar participar. Seja bem-vinda, Bruna!
Bruna Gomes: Obrigada! Fico feliz com a oportunidade e o espaço!

RL: Mas você é mais do que uma integrante do Al-Málgama, não é?
BG: Sou diretora, coreografa e líder do Grupo. E bailarina.


RL: É também a fundadora?
BG: Isso, sim, a fundadora. 


RL: Como você definiria a proposta de linguagem do grupo?
BG: Hummm...
Bastante variada, gosto da linha de pesquisa e cada trabalho é único, exploro a criatividade e a diversidade, considero o estilo do grupo diverso e é isso que mantém a nossa marca.
Mantendo com base a dança tribal aliada a processos experimentais.


RL: Então podemos ver o Al-Málgama falar sobre qualquer coisa com qualquer linguagem? Não há um estilo Al-Málgama de se expressar? Claro, sempre baseado em pesquisa e desenvolvimento como você já descreveu.
BG: O Al-Málgama poderia ser classificado como ‘Tribal Interpretativo’, pois nossas coreografias, na maioria das vezes, têm a tendência a passar algum tipo de mensagem crítica ou contar uma história.

RL: Tribal Interpretativo. Pela forma como você definiu isto eu diria que esta é a linguagem do Al-Málgama...
BG: Difícil definir uma linguagem única, mas o Tribal interpretativo sem dúvida é a dominante.

RL: Achei muito interessante, então vou assumir que é uma postura para não limitar a uma definição.
BG: Ótimo! Não gosto de limitações. :)
Aliás, acho que a limitação vai contra a proposta de experimentação e da arte viva.

RL: Sim, na verdade eu perguntava sobre linguagem...
Então no meio destas pesquisas surgiram as sereias? Como você chegou a este conceito?

BG: Eu sempre gostei de seres mitológicos e ou místicos femininos. Antes de montar a coreografia das sereias, vi vários trabalhos de dança que evocavam o ser sereia, mas não como a sereia mitológica, e sim como a Ariel da Disney, e isso me incomodava, pois a sereia destes trabalhos, além de ser boazinha, doce, gentil, representava a beleza feminina dentro do padrão estético masculino, ou seja... Eram belas para o público masculino, eram Disney. Então decidi montar uma coreografia que mostrasse o ser mítico, que não era nada boazinha, mas tampouco malvada, e sim instintiva, ou seja, agia conforme a ocasião pedia (se ser bela para os homens lhe trouxesse vantagem - leia-se comida, vingança - ela o seria).

RL: Eu também não gosto destas sereias 'disney', são na verdade as princesas indefesas a espera do salvador dos contos de fada versão aquática. O ser mitológico é bem mais interessante.
BG: certamente.

RL: Antes da pesquisa para o grupo você já tinha interesse no tema. Você se lembra de como foi que surgiu seu interesse pelas sereias?
BG: Acredito que tenha sido através de estudos sobre as grandes navegações. Foi quando entendi que as sereias "verdadeiras" nada têm a ver com as da Disney.

RL: Então foi um interesse desperto por estudos, não houve um lado lúdico como é na maioria dos casos?
BG: Não. (risos)


Claro que eu achava linda a ideia das sereias enquanto seres fantásticos, mas o que despertou o tesão para a pesquisa foi saber deste outro lado delas, o lado contado por marinheiros, por pessoas reais que viveram em um período no qual elas poderiam ser críveis, no qual despertavam medo mais do que curiosidade.




RL: Não veremos a Bruna Gomes realizando uma fantasia pessoal usando cauda de sereia. Fora de cogitação, certo? (risos)
BG: Por que não? (risos)
Se for pra fazer uma coreografia só pra poder usar o rabo de sereia, aí não. Pois sempre tenho em mente passar algum tipo de mensagem ou de interpretar alguma história. Nestes casos, se o uso de tal ornamento for um incremento para a coreografia, aí sim, eu usaria feliz da vida. (risos)

RL: Bom... Suas respostas estão destruindo minha expectativa de ouvir algo como, ‘quando eu era criança eu queria ser uma sereia’. :D
BG: (risos) Desculpa!

RL: Mas fora dos palcos, a sereia não faz parte de forma alguma do seu imaginário? 
    
BG: Não sei. Como assim?

RL: Hahahahah
Vou desistir de te forçar a ser uma sereia!

BG: Hahahahah! Eu sou uma sereia. Hahahahah

RL: :D
Eu acho que estou na lista das pessoas que nunca quiseram ser sereias, eu sempre quis ter uma amiga sereia sabe, pra ir bater papo com ela na praia vez ou outra.

BG: Ótimo! Se conheceres uma, me apresenta. Adoraria bater um papo também. :)

RL: Apresento sim!
No desenvolvimento do tema para o trabalho coreográfico você deve ter se deparado com algum fato interessante nas pesquisas. Lembra-se de algum para nos contar agora?

BG: Ah, sim! Achei muito interessante o mito da sereia Iara (uma sereia da mitologia brasileira), cuja maldição era ser linda. Ela viveu uma vida infernal em função da inveja e bulling pelas outras índias devido a sua tamanha beleza, por vezes sofreu perseguição e ameaças de morte, até que ela decide se matar jogando-se no rio, mas novamente a sua maldição (beleza) não permite que ela morra. Os seres das águas não admitiram que algo tão belo morresse e então a transformam em um ser hibrido que vive amaldiçoada solitária, e por tanto se usa de sua beleza para vingar-se e matar quem quiser admirá-la.
Mais ou menos isso. Essa lenda inspirou profundamente minha construção coreográfica. Embora não seja literal a representação todos os elementos dessa história, busquei usar no meu trabalho. A supervalorização da beleza e exotismo, representada por um "aquário" no inicio da coreografia, a sedução e a vingança que ocorrem durante o processo e finaliza com um afogamento de alguém escolhido na hora entre o público, são elementos que vieram para a coreografia devido a esse mito.

RL: Este é um tema que você ainda pretende explorar?

BG: Sim. Estou planejando explorá-lo mais em breve. Esta é uma das coreografias mais queridas do grupo. Nosso projeto agora é explorar mais o lado maligno das sereias, o lado monstro.
A Patricia Nardelli, uma das integrantes do grupo, já deu um apelido para a nossa coreografia: Sereias Abissais. Mas ainda não está definido o nome real da coreografia, e nem a coreografia, mas pretendemos montá-la ainda este ano.

RL: Todo o processo é desenvolvido por você?
BG: Normalmente eu entro com a proposta e o esqueleto do trabalho, mas sempre abrindo espaço pra processos coletivos de criação.

RL: Agora vamos brincar?

BG: vamos! :)

RL: Fale como sereia!
BG: Glub
Hahahah

RL: Hahahahah
Foi a coisa mais original que uma sereia me disse! Adorei!

BG: Hahahah

RL: Bruna adorei nosso bate papo! :)
BG: Obrigada, querida. Adorei também. Foi um grande prazer.
Quando novos trabalhos sereísticos estiverem prontos, te avisarei.

RL: Faça isso! Vou adorar ver o novo trabalho! O prazer foi todo meu! Glub! (risos)
BG: Glub! (risos)  


RL: Beijos!
BG: Beijos pra ti também.



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